sábado, 22 de junho de 2013

PROTESTOS: O movimento não tem um foco definido e pode não dar em nada

Ser “contra tudo isso que aí está” pode ser muito bonito — mas o movimento que ocupa as ruas de várias cidades do país há vários dias corre o risco de, sem um foco definido, dar em nada.

A Primavera Árabe, que começou no final de 2010, na Tunísia, tinha um foco claríssimo: derrubar as ditaduras que oprimiam (e ainda oprimem) dezenas de países. Ela se alastrou por uma dúzia de países, e conseguiu seu objetivo na própria Tunísia, no Egito, e na Síria, derrubando governo que estava há várias décadas.
Aqui no Brasil, a campanha das Diretas-Já — o maior movimento de massas da história do país — mobilizou dezenas de milhões de brasileiros nas ruas e praças públicas em torno de uma palavra de ordem límpida, clara e de compreensão imediata: acabar com a farsa do Colégio Eleitoral que “elegia” generais e fazer com que o povo voltasse a escolher o presidente da República.
Movimentos com dezenas de reivindicações perdem o foco e podem morrer na praia. Como ocorreu com o fenômeno realmente impressionante dos “indignados” na Europa, em 2011. O movimento começou na Espanha, em maio de 2011, à época já muito afetada pela crise financeira internacional de 2008, com um governo socialista em fim de mandato, desgastado e exaurido.
As primeiras passeatas de jovens protestando contra o desemprego logo ampliaram sua gama de reclamações e tudo passou a entrar no bolo: os bancos, os banqueiros, o capitalismo, a globalização, as instituições internacionais como o Banco Mundial e o FMI, os políticos, os partidos políticos, o mau funcionamento da Justiça — e por aí vai.
A generosidade e o calor das pessoas contrastavam com uma absoluta falta de objetividade.  O exemplo espanhol, evidentemente, alastrou-se Europa afora, começando pela Grécia, que já atravessava uma brutal crise econômica, pela Itália, pelo Reino Unido, pela França. Com os políticos atarantados, os governos aparvalhados e mudos, os analistas de todas as ideologias tentando entender o que se passava, parecia que o mundo iria ser virado de cabeça para baixo. A efervescência durou algumas semanas — e, no final, acabou não acontecendo nada.
No Brasil manifesta-se contra a desilusão política, mas não é indicado nenhum novo nome; contesta-se a educação e saúde, mas nunca se falou o nome de qualquer pessoa que seja o responsável pela falta de educação e saúde, nem o nome de quem possa resolver a questão. Problemas. As mazelas brasileiras são, realmente, demais, porém, se não tiver um objetivo nas reivindicações, nem uma pessoa que possa resolver, terá mesmo fim dos protestos na Europa: Não acontecer nada no Brasil.Na manifestação em Campo Maior-PI, o único problema local abordado foi a UESP. Este é o único problema da cidade?
2014 vem aí e centenas de políticos poderiam se exilados da política nacional, mas o próprio movimento quer soluções de políticas públicas, mas não quer falar em políticos. Então tá...
Texto de Ricardo Setti, adpatado



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